O Brasil vive um momento de transição importante em sua política de imunização infantil: a clássica “vacina da gotinha”, símbolo de gerações e das campanhas do icônico Zé Gotinha, está sendo substituída gradualmente pela vacina injetável contra a poliomielite (VIP). A decisão, anunciada pelo Ministério da Saúde e apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), faz parte de uma estratégia global para eliminar definitivamente o vírus da pólio e prevenir novos surtos.

A mudança, embora técnica, tem impacto direto na rotina dos postos de saúde e das campanhas municipais. E, acima de tudo, desperta uma dúvida em milhões de famílias: por que abandonar um símbolo tão querido e eficiente?


Por que o Brasil está trocando a vacina oral pela injetável?

A resposta está na evolução da ciência e na segurança da imunização.
A vacina oral (VOP), administrada em forma de gotinhas, foi fundamental para erradicar a poliomielite no Brasil, com campanhas massivas desde os anos 1980. No entanto, estudos recentes indicam que, embora eficaz, a VOP pode — em casos raríssimos — causar uma forma atenuada do vírus circular em ambientes com baixa cobertura vacinal.

Para eliminar esse risco, a OMS recomendou que os países substituam gradualmente a vacina oral pela vacina injetável (VIP), feita com vírus inativado. Essa nova versão oferece proteção segura e completa, sem a possibilidade de causar infecção.

Segundo o Ministério da Saúde, “a VIP é mais moderna, segura e garante imunidade prolongada. A mudança é uma atualização necessária para manter o Brasil livre da pólio.”


Como fica o novo esquema vacinal da poliomielite

A partir de 2025, o Brasil adotará o seguinte esquema básico para imunização infantil:

  • Três doses injetáveis (VIP): aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade.

  • Reforços: duas doses de reforço, sendo aos 15 meses e aos 4 anos, ainda em formato injetável.

Com isso, as tradicionais “duas gotinhas” que marcaram gerações deixam de fazer parte da rotina. O Zé Gotinha, contudo, não se aposenta — ele se transforma em símbolo educativo e de confiança para a nova fase das campanhas.

O desafio para os municípios: informar, acolher e garantir adesão

A principal missão das prefeituras e secretarias municipais de saúde agora é garantir que a população entenda e aceite a mudança. Muitos pais ainda associam a gotinha à imunização eficaz e podem desconfiar da nova vacina injetável.

Algumas recomendações práticas para as gestões municipais:

  1. Comunicar de forma clara e empática.
    Explique que a vacina mudou, mas a proteção continua — e ficou ainda mais segura. Evite termos técnicos e use comparações simples (“é como atualizar o antivírus do computador da sua família”).

  2. Reforçar a imagem do Zé Gotinha.
    A personagem deve continuar sendo o porta-voz das campanhas, agora explicando a “nova vacina”. Campanhas visuais com frases como “Zé Gotinha agora protege com injeção!” podem gerar curiosidade e engajamento.

  3. Capacitar as equipes de saúde.
    Treinamentos rápidos ajudam os profissionais a responder dúvidas e acolher pais temerosos diante da mudança.

  4. Aproveitar as campanhas escolares e eventos comunitários.
    O ambiente escolar continua sendo um aliado para aumentar a cobertura vacinal e combater a desinformação.

  5. Usar as redes sociais municipais.
    Publicar vídeos curtos, “antes e depois” das campanhas e depoimentos de mães pode humanizar a mensagem e viralizar de forma positiva.


O simbolismo do Zé Gotinha: do ícone das gotinhas ao embaixador da nova geração

Criado em 1986, o personagem Zé Gotinha tornou-se um dos símbolos mais reconhecidos da saúde pública brasileira. Sua imagem, associada ao cuidado e à proteção, continua sendo uma ferramenta poderosa de comunicação.

Agora, em vez de “pingar gotinhas”, o personagem pode representar a evolução da ciência e da proteção coletiva. A campanha nacional de 2025, intitulada “Zé Gotinha Explica”, já está sendo usada em vídeos e postagens do Ministério da Saúde para ensinar as famílias sobre a nova vacina injetável.

Com isso, o personagem deixa de ser apenas um mascote e passa a ser um educador em saúde pública, combatendo desinformação e reaproximando o público infantil das campanhas de imunização.


Reação da população e das equipes municipais

A mudança gerou surpresa e até certo saudosismo. Muitos pais se lembram com carinho das filas nas praças e escolas para “tomar a gotinha”. Por isso, a comunicação deve equilibrar nostalgia e modernidade: mostrar respeito pela história, mas destacar os avanços da medicina.

Em alguns municípios-piloto, como Campinas (SP) e Aracaju (SE), campanhas de esclarecimento realizadas em 2024 mostraram que mais de 70% dos pais preferem a vacina injetável quando entendem seus benefícios. Esses resultados reforçam o papel da informação bem planejada.


O impacto positivo esperado

A substituição da vacina oral pela injetável é um marco na segurança das campanhas. Com a VIP, o Brasil:

  • Elimina qualquer risco de vírus vacinal circulante;

  • Reforça o compromisso com o plano global de erradicação da pólio;

  • Moderniza seu Programa Nacional de Imunizações (PNI), tornando-o compatível com as práticas dos países mais desenvolvidos.

Mais do que uma mudança técnica, trata-se de um avanço civilizatório — a transição de uma era de combate à pólio para uma era de prevenção total.


Comunicação é vacina contra a desinformação

O sucesso dessa transição depende tanto da ciência quanto da comunicação. É preciso que cada município seja protagonista da campanha — transformando informação correta em confiança popular.

O Brasil tem um histórico de campanhas exemplares. A gotinha foi símbolo de esperança. Agora, a injeção é símbolo de evolução, cuidado e futuro.

“A gotinha cumpriu seu papel. Agora é hora da nova geração ser protegida com o mesmo amor — e com ainda mais segurança.”


Conclusão: a ciência evolui, o compromisso continua

 

A substituição da vacina da pólio é mais do que uma mudança técnica. É a reafirmação de um pacto coletivo: nenhuma criança brasileira deve voltar a correr o risco da poliomielite.
Com informação, acolhimento e campanhas criativas, as prefeituras podem transformar esse novo ciclo em um momento de orgulho nacional — tal como foi a era de ouro do Zé Gotinha.