A vacinação infantil no Brasil, que já foi referência mundial em saúde pública, enfrenta um dos seus maiores desafios em décadas. Dados recentes do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) revelam uma preocupante redução nas coberturas vacinais, especialmente entre crianças menores de cinco anos. Essa queda coloca o país novamente sob risco de reintrodução de doenças antes erradicadas, como poliomielite e sarampo.


O cenário atual: a volta de doenças que estavam controladas

Até o início dos anos 2000, o Brasil mantinha índices de vacinação acima de 95%, garantindo a eliminação de doenças como a poliomielite e o sarampo. No entanto, a partir de 2015, observou-se uma tendência de queda constante. Em 2024, a cobertura média da vacina contra a pólio ficou em torno de 78%, segundo dados do Ministério da Saúde. Já o sarampo, após ter sido erradicado em 2016, voltou a registrar casos esporádicos em estados do Norte e Nordeste.

Esses números não são apenas estatísticas. Eles representam um alerta claro: sem imunização adequada, doenças antigas encontram terreno fértil para ressurgir. O país, que já foi símbolo de eficiência em campanhas como a do Zé Gotinha, hoje precisa reconquistar a confiança da população.


Por que os pais estão vacinando menos?

Diversos fatores explicam o fenômeno. O primeiro é a desinformação, amplificada por redes sociais e aplicativos de mensagens, que espalham mitos sobre supostos riscos das vacinas. Em segundo lugar, há uma falsa sensação de segurança: como as doenças haviam desaparecido, parte dos pais acredita que as vacinas deixaram de ser necessárias.

Além disso, questões logísticas também pesam. Em municípios menores, o número reduzido de profissionais de saúde e a distância até os postos de vacinação dificultam o acesso. Soma-se a isso a rotina pós-pandemia, que alterou hábitos e prioridades das famílias.

Impactos da baixa cobertura vacinal

O enfraquecimento das campanhas de vacinação não é um problema apenas de saúde — é também econômico e social. Cada surto de sarampo, por exemplo, pode gerar custos significativos ao sistema de saúde e comprometer a economia local. Mais grave ainda, a interrupção das atividades escolares por surtos em creches e escolas municipais tem impacto direto na rotina das famílias e na produtividade.

Do ponto de vista epidemiológico, quando menos de 90% da população está vacinada, o chamado “efeito rebanho” se perde. Isso significa que até mesmo crianças vacinadas podem ficar vulneráveis, pois o vírus encontra brechas para circular.


O papel das prefeituras e secretarias municipais de saúde

Os municípios estão na linha de frente da vacinação. Por isso, é essencial que as secretarias municipais invistam em comunicação ativa e educativa. Algumas estratégias eficazes incluem:

  1. Campanhas locais com linguagem acessível e emocional, explorando o carisma do Zé Gotinha e personagens regionais.

  2. Vacinação em escolas e creches, com autorização prévia dos pais, aproveitando o ambiente escolar como ponto de confiança.

  3. Parcerias com rádios comunitárias, igrejas e influenciadores locais, que ajudam a combater mitos e ampliar o alcance das mensagens.

  4. Monitoramento ativo das cadernetas de vacinação, usando agentes comunitários de saúde para identificar crianças com doses atrasadas.

  5. Uso de tecnologia e mídias sociais: criar perfis oficiais no Instagram, WhatsApp Business e Facebook com informações simples, visuais e confiáveis.

Campanhas municipais bem-sucedidas, como as realizadas em Sobral (CE) e Londrina (PR), mostraram que a comunicação direta com as famílias — por meio de visitas e mensagens personalizadas — aumentou em até 20% as coberturas vacinais em menos de um ano.


Educação e confiança: o eixo da reversão

O grande desafio da vacinação hoje é reconquistar a confiança da população. É preciso que os profissionais de saúde voltem a ser vistos como fontes de informação seguras. Investir na formação continuada dessas equipes e capacitá-las para lidar com dúvidas dos pais é fundamental.

Outro aspecto crucial é o engajamento das escolas. Professores e diretores, quando informados, tornam-se aliados poderosos. A vacinação deve ser tratada como tema transversal, integrando educação e saúde pública.


Comunicação que engaja: a força da narrativa positiva

Em vez de focar apenas no medo das doenças, as campanhas municipais podem explorar narrativas positivas: saúde, amor e proteção. Mostrar famílias reais, profissionais de saúde comprometidos e crianças saudáveis após a vacinação cria identificação e emoção. É essa abordagem que transforma informação em engajamento e engajamento em ação.

Exemplo de mensagem com alto potencial viral:
“Vacinar é um ato de amor que protege seu filho e toda a cidade.”

Frases curtas, com tom humano e visual atrativo, têm maior alcance em redes sociais, principalmente no Instagram e no TikTok.


O futuro depende da ação local

A queda da vacinação infantil é uma crise silenciosa, mas reversível. O Brasil já mostrou que sabe fazer campanhas exemplares. Agora, cabe aos municípios liderarem o resgate dessa confiança, investindo em comunicação, acolhimento e organização.

 

Vacinar é investir no futuro.
E o futuro começa na decisão de cada gestor público, de cada pai, de cada profissional de saúde.